Então né... sem foto hoje, porque a única foto que eu tenho dos últimos 4 dias é a de meu pai sendo preparado pra ir pro centro cirúrgico - e eu, obviamente, não vou publicar isso. Mas vim aqui compartilhar com meus 2 ou 3 leitores as observações e as reflexões que 4 dias de inércia cognitiva no Hospital da Bahia me proporcionaram. Quase epifanias e pans, porque eu sou conivente com a teoria de que a gente deve extrair aprendizado de tudo o que acontece em nossas vidas.
Hospital é meio que sinônimo de uma resignação e MUITA humildade, sobretudo pra quem está internado. É estar lá submisso a tudo, a outras pessoas, é estar num estado de dependência que deve ser absurdamente desagradável. É sentir dor e precisar que alguém chame uma outra pessoa, que pode ou não resolver. É precisar de ajuda pra tomar um banho, ir ao banheiro, vestir uma roupa. É depender de alguém pra te alimentar, ligar uma televisão, abrir uma cortina. É precisar de alguém pra dar uma simples caminhada no corredor do hospital, empurrando o treco que segura o soro e vestindo aquele pijama horrivel que deixa a bunda aparecendo - e TER QUE ACEITAR que andar com a bunda aparecendo naquele ambiente é algo normal. É ver uma pessoa alheia invadir seu quarto sem nem bater na porta, abaixar seu lençol, levantar sua roupa e apalpar seu corpo pra fazer exames. É um conformismo forçado, uma aceitação imposta de que estar ali é o único jeito e se privar de tudo é parte do processo. É valorizar coisas simples, como um vento, ver o movimento da rua 5 minutos ou um pouco de sol - o Hospital da Bahia é quase um Ziploc, hermeticamente fechado. E com isso eu concluí que sou muito orgulhosa/independente/chata pra um dia me internar e aceitar que façam tudo por mim.
Também pensei na efetividade de uma enfermeira. Me desculpem os médicos, mas não acho que enfermeiros mereçam menos respeito que vocês. É incrível como a gente tende naturalmente a colocar um médico num pedestal semi-santificado e o enfermeiro numa posição desmerecida - e ambos estudaram quase o mesmo período de tempo pra exercer suas funções. Quase não vi médicos nesses 4 dias, e se via, eram visitas de menos de 5 minutos. As pinimbas eram resolvidas pelas enfermeiras, as informações eram dadas pelas enfermeiras, quem ouvia os sintomas inesperados às 2h da manhã eram as enfermeiras. Dica: adorem enfermeiras se por acaso vocês passarem algum tempo no hospital. E tratem-nas melhor do que os médicos. Elas merecem.
A conclusão mais evidente, contundente, efusiva e drástica EVER: quero um carro com porta-copos DECENTE. Passei os ultimos dias me alimentando de drive-thru e o porta-copos do carro do meu pai - o qual ficou deliciosamente sob o meu poder nesse período - é sedutor! O do meu é MUITO meia-boca, não segura nem copinho de café de 50ml. Meta pra 2010: Carro com porta-copos sedutor, volante robusto, vidro elétrico e suspensão alta. Viciei.
Se eu lembrar de mais coisa, dou update. Mas o fato é que agora estou com fome/sono, e como meu pai teve alta, hoje vou desligar o celular e amanhã só acordo meio-dia.
***Obrigada especial aos vários amigos lindos que foram lá no hospital me visitar, me ligaram toda hora, enfim.. estiveram comigo nesses dias chatos! Vocês são delicinhas demais, demais, demais e fizeram meus momentos lá muito felizes!
Bjos...