quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Fim de namoro...

Já que estou quase 100% recuperada do meu último, sinto-me apta a escrever sobre - mesmo sabendo que as repercussões desse post podem ser catastróficas no universo feminino! hahahahahaha!

Falemos antes de dor. A dor fenomenológica, lírica, subjetiva, poética. A gente nunca sabe o que é uma dor até que ela nos atinja. Podemos ver dores representadas na televisão, podemos tê-las por perto, mas se não forem nossas, não tem jamais a mesma conotação. Isso se enquadra na dor da morte, na dor do fim, na dor do adeus, na dor do problema, até mesmo na dor física. Foram poucas as vezes na minha vida em que eu REALMENTE senti dor por algo ou alguém, acho inclusive que a primeira vez foi no início do ano passado. Não sei se isso está ligado a uma nulidade de sentimentos ou a alguma imaturidade anterior, mas sei que na época só constatei que doía no momento em que algo semelhante ao que acontecia comigo passava na televisão e eu precisava desligá-la, porque o simples assistir daquilo me fazia querer sumir. É ridículo, mas daí em diante eu passei a diferenciar a existência e a inexistência da dor pela minha capacidade de suportar vê-la retratada fora de mim. Se eu precisasse desligar a televisão durante uma cena de beijo, havia algo errado; no momento em que a cena não me incomodava, ou aquilo não doía, ou eu já estava "curada". É meio psicanalítico isso, meio louco, inconsciente. Sei lá.

Só sei que nesse último mês de agosto eu fui acometida de um literal "Ando tão à flor da pele, que qualquer beijo de novela me faz chorar". Foi difícil ter que abrir mão de muitas coisas, ter que me forçar a esquecer de outras tantas, foi complicado ouvir certas músicas e ver certos filmes. Foi difícil ter reencontros, foi difícil escutar determinadas verdades. Foi difícil perder a fé, sobretudo em mim, e adquirir uma resistência aos outros que não é característica minha. Posso dizer que em agosto desliguei a televisão várias vezes, literalmente. Encontrei amparo sem querer das pessoas mais inesperadas possíveis, que simplesmente olhavam pra mim e percebiam que algo não estava normal - eu sou palhaça demais pra entrar carrancuda na sala de aula, sabem? hahahahaha!

Enfim... de todos esses amparos, ouvi vários conselhos. A maioria deles recaía naquele bom e velho "vá pra Madrre e garre 20, pra ele ver a mulher que perdeu"... "ignore completamente porque homem é tudo igual."... "deixe ele sentir falta, que ele volta" etc etc etc. Todos tiveram validade dentro de cada período do meu luto, devo dizer... embora eu não tenha ido pra Madrre garrar 20, porque isso requer duas coisas que me faltam: corpão e sem-vergonhice! hahahahaha! Mas, de tudo o que eu ouvi, o que me fez melhorar foi algo dito por Alcione, uma mulher maravilhosa da minha sala, que um dia olhou pra mim, perguntou o que eu tinha... eu falei que não tinha nada, daí ela pegou no meu rosto e disse: "Não importa o que foi, vai passar. Porque tudo nessa vida passa.". Quando eu me dei conta de que essa mensagem tinha vindo da mulher que tinha ACABADO de terminar um casamento de quase 30 anos, fiquei imaginando como a dor dela devia ser transcendental diante da minha. E de como eu estava sendo egoísta em me fechar em meu mundo, sem me permitir sequer um sorriso, por achar que naquele momento eu era a maior sofredora do universo.

Além de ter interiorizado a perspectiva do "tudo passa", pensar diferente do mundo me deu conforto. Quebrar o paradigma de "ex bom é ex morto" me fez sentir melhor em relação a mim, me fez acreditar naquela boa e velha Oração de São Francisco (vide abaixo). Tentar resgatar o que ficou de bom do relacionamento, tentar captar a essência da outra pessoa e fazer com que essa essência continue a te acrescentar é mais que necessário: é humano e é bonito. Hoje eu e ele estamos voltando a dar passos de formiguinha pra não desperdiçar o que ficou de legal entre a gente. Estamos indo devagar, como não poderia deixar de ser, mas cada dia é válido, porque o ser humano que ele é é bonito, extenso e intenso demais pra se resumir à frustração do fim de um relacionamento amoroso tão curto.

É chato pensar que eu ainda vou caminhar muito até achar o "amor da minha vida" (segundo Juliana, eu sou 'rosinha'... por isso ainda acredito nessas coisas)... porque dificilmente vou me casar e ficar velhinha ao lado do meu próximo namorado. E essa perspectiva, esse medo de ter que "desligar a televisão" repetidas vezes me faz não querer alguém tão cedo. Mas com o tempo a gente aprende que a dor de um término, apesar de inevitável, tem dimensões diretamente proporcionais à forma como você a conduz. E que a vida nada mais é do que uma sucessão de escolhas, renúncias, riscos e consequências.


"Senhor,
Fazei de mim um instrumento de vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor;
onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
onde houver discórdia, que eu leve a união;
onde houver dúvida, que eu leve a fé;
onde houver erro, que eu leve a verdade;
onde houver desespero, que eu leve a esperança;
onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre,
Fazei que eu procure mais:
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido;
amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna."

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