terça-feira, 28 de abril de 2009

Queridos pedestres,

eu já estive no lugar de vocês. Já senti a dor, o odor e o incômodo de um 1052 (Estação Mussurunga/Barra 2) lotado às 7h da manhã, em plena Estação Iguatemi diversas vezes. Já esperei em pontos de ônibus horas a fio por uma salvação do sol e do calor, ou da chuva e do frio. Já tomei banho de lama dado por outros veículos conduzidos por motoristas de má índole e coração vazio, já perdi o ponto por estar dormindo, já caminhei quilômetros por não ter condições financeiras para ser transportada por taxis durante greves de ônibus e afins. Já usei vale-transporte, já peguei fila na Estação da Lapa, já comi hot dog em Mussurunga. Já tropecei em pedra portuguesa solta na calçada, já fui assaltada, já fiquei séculos de pé numa faixa de pedestre implorando pra atravessar. Já peguei ônibus errado e fui parar em Praia do Flamengo, já tomei "capelinha" pra matar o calor escaldante do sol da Manoel Dias da Silva num mês de dezembro. Isto posto, eu verdadeiramente sei como se processa o dia-a-dia de vocês e os considero pessoas de muita garra e luta. Fui pedestre, mas sempre consciente da importância da noção de ver e ser visto. E por isso venho passar pra vocês um pouco do que aprendi ao longo da vida.

Um dia, porém, a minha sorte mudou. Não sei se através da insistência e do posterior cansaço, mas de alguma forma consegui convencer meus genitores de que um carro seria algo útil e seguro para o meu deslocamento. Isto posto, foi-me adquirido aquele que hoje torna a minha vida mais funcional e mais eficiente: O meu lindo palio preto. Sinto-me agraciada por Deus por fazer parte de um grupo que tem condições de adquirir e manter um veículo, sobretudo estando na idade em que estou. Sinto-me diariamente abençoada por não ter que passar pelas privações e dificuldades inerentes ao transporte público municipal, bastante defasado e periculoso, bem como pelo calor que acomete a nossa cidade.

No entanto, venho por meio desta pedir-lhes um pouco mais de cidadania, associada à noções de direção defensiva e raciocício lógico, através dos tópicos abaixo fundamentados:

1) Carros tem pontos cegos - ou seja, lugares aos quais os motoristas não tem acesso visual. Estes se situam principalmente nas quinas existentes entre os vidros e a lataria dos veículos, locais os quais retrovisores não alcançam. Não vou pedir-lhes que saibam exatamente onde se posicionar numa rua em decorrência disso, mas peço encarecidamente que não fiquem em pé, parados no meio do asfalto, em esquinas. Normalmente ao fazer a curva este é um ponto ao qual o motorista não tem acesso MESMO, podendo causar um atropelamento que poderia facilmente ser evitado.

2) Não atravessem fora da faixa de pedestres. Eu sei que é difícil arrumar uma em determinados locais, sei também que tem muito escroto por aí que não para nelas, mas eu faço minha parte - ainda que se constitua um buzinaço e um conglomerado de xingamentos à minha mãe atrás de mim. Eu paro nas faixas, mas não queiram surgir do nada no meio da Av. Paralela num dia de trânsito intenso esperando que todos parem ou reduzam para que vocês atravessem. Até porque normalmente quando vocês estão se aproximando dos veículos, estão em zona de ponto cego, e se ele estiver em movimento num lugar em que É pra ele estar em movimento, pode não dar tempo de parar.

3) Observem sinalizações. Seta ligada em sinal aberto próximo a cruzamentos normalmente é sinônimo de curva a ser feita, então procurem não fazer movimentos bruscos que denotem um "vou atravessar a rua" no momento em que o veículo encontra-se com aquela luz laranjinha e piscante ativada, ainda que sua intenção não seja a de atravessar. Isso causa sustos inimagináveis que podem gerar freadas instantâneas e consequente engavetamento. Pense que se o motorista preocupou-se em avisar os seus passos posteriores, ele se preocupou também com a sua integridade física.

4) Não atravessem bem no meio de rotatórias - um emaranhamento viário acontece caso isso seja feito, uma vez que todos os lados precisam parar para que vocês completem a travessia. Normalmente antes e depois delas existem faixas especialmente destinadas a vocês.

5) Por fim, o mais importante: andem na calçada. Muitas vezes, pra escapar de fechadas ou bestas lerdas rotas de colisão, precisamos fazer movimentos bruscos nos quais a resultante é uma aproximação considerável do meio-fio. Caso vocês estejam transitando nesta área, há de se prever que algo de ruim acontecerá - seja com vocês, seja com o carro que foi fechado e/ou sofreu a possibilidade de colisão.

Sem mais, fico por aqui - com a notificação de que ainda essa semana eu volto pra escrever dicas de educação para os motoristas.

Atenciosamente,

Simone Brasil.

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