segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Assistencialismos...

Se eu pudesse colocar em palavras o que se passa agora em meu coração, provavelmente muita gente ficaria assustada, chocada, revoltada, tudo com ada. Na verdade colocar em palavras eu até sei, o que eu não posso é colocar em palavras aqui. Da mesma maneira que, se eu fosse listar todas as minhas preocupações atuais - sejam elas concretas ou abstratas - muitas pessoas sairiam correndo deste humilde blog. Isto posto, vou apenas destilar meu veneno antipático sobre algo contraditório em que eu tenho pensado bastante.

Semana passada, na minha aula de estágio, iniciei uma discussão [literal] em sala por causa de questões assistencialistas. Começou com a inclusão de cotas pra deficientes físicos em empresas (que eu até concordo), entrou pelo viés das cotas pra negros em universidades (que eu pondero) e terminou na questão das "bolsas".. Bolsa família, bolsa escola, bolsa isso, bolsa aquilo (que eu abomino). E no fim, deu-se uma série de discursos fervorosos, cada um defendendo o que lhe convinha. Normal.

Hoje na aula estávamos falando sobre isso e a professora falou que em uma cidade dessas de interior, meninas de 13 anos estavam engravidando propositalmente pra receber auxílios do governo. Não sei de vocês, mas eu, como filha de uma classe média burguesa e consequentemente direitista, acho assistencialismo uma coisa burra. Acho que "dar" (no sentido não-bíblico do verbo) é diferente de "prover", e na minha concepção, assistencialismo é mais um presente do que um provento. Quando você dá 100 reais pra uma família todo mês a troco de nada, você gera nada menos que um ciclo vicioso oriundo de uma acomodação. Nada vai impulsionar aquela família a sair daquilo, porque todo mês vai brotar um valor na sua porta que muitas vezes compensa um mês inteiro de salário. Daí conclui-se que dar essa assistência nada mais é do que "retirar" da pessoa a sua capacidade de superação por meios próprios - ainda que ela concorde com isso. A perspectiva de que meninas recém-saídas da infância estão colocando outras crianças no mundo a troco de uma "bolsa-qualquer-coisa" é, pra mim, desesperadora. Em busca de dinheiro elas estão gerando novas vidas, vidas cujas estimativas de futuro e ascensão social não serão muito diferentes das delas... e a partir daí constata-se que pobreza sem vontade de vencer gera mais pobreza... logo, assistencialismo gera mais pobreza.

Eu sou a favor de "ensinar a fazer a massa" do que a simplesmente "dar o pão", como disse uma vez um professor meu. Sou a favor de uma "bolsa curso técnico", "bolsa especialização" ou qualquer coisa que faça com que cada um descubra suas próprias potencialidades e queira, e se esmere pra sair dessa inércia social. Mas o mais triste de tudo é que essa manipulação da [in]capacitação humana vem de cima, porque assistencialismo gera votos... e votos geram assistencialismo. E forma-se assim uma cadeia repugnante, na qual entramos pra nunca mais sairmos.

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